segunda-feira, maio 26

Três irmãos de sangue

Acabo de assistir ao documentário Três Irmãos de Sangue, de Ângela Patrícia Reiniger. O filme resume de modo competente a história dos irmãos Betinho, Chico Mário e Henfil. Eles são o sociólogo, o músico e o cartujornalista que se tornaram figuras fundamentais na reabertura democrática brasileira (se é que esse termo é conveniente), na luta contra a então desconhecida e ainda hoje temida aids, e em tudo que fosse relacionado à luta pela liberdade do ser humano. Três irmãos que realmente quiseram e fizeram algo pra sacudir esse bando de católicos fixados nos raios catódicos de seus televisores.

O documentário utiliza-se de uma linguagem usual no gênero para contar a sua estória. Entrevistas atuais intercalam-se com depoimentos e imagens históricas dos irmãos. E é justamente por não querer ousar ou arriscar estéticas injustificáveis que o filme nos permite viajar sem interrupção pela trajetória dessas figuras essenciais para o crescimento da identidade brasileira.

A resposta de Betinho ao seu envolvimento com o jogo do bicho é um dos momentos em que a seguinte afirmativa se torna inquestionável: aqueles três irmãos eram fodas! Ver as imagens de Henfil discursando despojadamente, com a mesma franquesa presente no olhar dos outros dois irmãos, é perceber que lutar por um ideal é o maior sentido que se pode dar à vida (fazia tempo que não escrevia uma frase tão clichê, mas não consegui apagá-la mesmo assim.

Lembro de um livro que eu via em casa quando era criança. Tentei ler e não entendi muita coisa. Desisti logo. Mas eu gostava muito da capa. Tinha o fundo azul e um desenho que não me lembro bem se era uma careca ou um globo terrestre com um carinha em cima. Ou as duas coisas. O título também era bastante curioso: Henfil na China - Antes da Coca-Cola. Eu ficava pensando quem era o Henfil, e por que antes da Coca-Cola. Perguntei ao meu irmão, e ele me disse que na China não tinha Cola-Cola. Como meu pai havia colocado um dente dentro de um copo com Coca-Cola pra vermos o quanto ela corroia nossos ossos, achei que os chineses é que tinham sorte. Vou ver se encontro esse livro num sebo.

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