Um professor de cinema brasileiro fez a seguinte pergunta: se você fosse refilmar Limite, como faria?
Se me fosse proposto a refilmagem de Limite, iria diminuir a duração do filme, reduzindo a história em uma hora aproximadamente. Para tanto, deixaria mais curtos alguns planos que muitas vezes tornam o filme lento. Como exemplo, o da mulher andando na estrada, do homem de terno que também caminha, assim como alguns planos-detalhe: o carretel de linha e a tesoura. Também faria o mesmo com as cenas que exploram as pernas e outras partes do corpo. Dessa forma, faria uma montagem mais rápida e dinâmica.
Iria manter a decupagem próxima à original, utilizando muitos dos enquadramentos e movimentos de câmera vistos no filme.
A interpretação dos atores iria ser menos teatral, e introduziria alguns diálogos, principalmente nas cenas onde o homem e as duas mulheres estão no barco, assim como nas cenas mais narrativas, evocadas por suas memórias.
O filme seria colorido e a trilha mais minimalista, com momentos de silêncio, explorando os ruídos e sons dos objetos e ambientes. O som do mar seria muito utilizado, e a orquestração encontrada no original seria reservada apenas para os momentos mais narrativos, onde a ação é que movimenta a cena.
A cena do naufrágio seria mais realista, com planos próximos de curta duração, ao invés do recurso de filmar apenas o mar revolto sem a embarcação.
Exploraria com mais planos a cena final dos urubus debandando do alto do monte. Primeiro iria mostrar as rochas, secas e de luz dura, contrapondo-se ao mar, e em seguida mostraria os pássaros saindo do monte, como se estivessem indo se alimentar dos corpos dos náufragos.
Mais do que a cena da mulher com as algemas sobre o rosto, mostrada no início e no fim do filme, acho que a cena dos urubus sintetiza de forma emblemática toda a idéia da obra: cada indivíduo é um baú isolado de histórias, e muitas vezes a memória nos atormenta, nos torna náufragos de nós mesmos, e o presente vira um oceano monocromático e adormecido.
Somos ao mesmo tempo um ponto de vista e um testemunho do quanto, ao longo da vida, suportamos a solidões e perdas, mas todas as histórias acabam do mesmo jeito. A morte é o limite.
2 comentários:
Oi, uma pergunta fora do assunto do blog: você faz parte do quinteto irreverente? Onde e quando será a próxima apresentação de vocês?
Obrigado e sucesso!
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