terça-feira, outubro 11

sobre dois textos de andré bazin

1.      O MITO DO CINEMA TOTAL

Para Bazin, a força motriz para o surgimento do cinema foi a vontade do homem em recriar a realidade da melhor forma, dando à fotografia movimento, som e cor, na tentativa de superar o tempo. É essa busca ao que ele chama de realismo integral que fez com que descobertas e avanços científicos separados convergissem para a construção desta “arte mecânica”, no início do século XX.

Discordando dos que viam nos primeiros filmes (pb e mudo) exemplos da própria essência do cinema, de um “cinema puro”, Bazin ironiza dizendo que o cinema ainda nem foi inventado, e propõe uma leitura inversa de sua história. Para ele, quanto mais as imagens em movimento darem ao espectador as sensações da realidade, mais esta arte se aproximará de seu ideal de origem, o que ele chama de mito do cinema total.

Diante dos atuais avanços em relação ao som, efeitos especiais e principalmente imagens em 3D, o olhar que Bazin lançou há mais de meio século sobre a evolução do cinema, pelo menos o chamado cinema narrativo-naturalista, se faz atual e coerente.


2.      ONTOLOGIA DA IMAGEM FOTOGRÁFICA

Cada sociedade busca, à sua maneira, uma forma de superar a idéia da morte. Para os egípcios, o embalsamamento impedia a ação do tempo sobre a matéria, imortalizando-a, tornando assim possível o retorno do espírito.

Segundo Bazin, o caminho percorrido pelas artes plásticas foi guiado por essa necessidade de eternizar o homem através de sua imagem, livrando-o, pelo menos de forma simbólica, da finitude da vida. As pinturas e esculturas serviriam para criar um universo paralelo, ideal e eterno, marca permanente de nossa espécie.

Assim, o advento da fotografia foi o maior acontecimento na evolução das artes que têm na imagem sua forma de representação. A impressão da imagem no papel fotográfico é a consagração absoluta da vontade humana em imprimir e eternizar o tempo da forma mais realista possível. Com o advento da fotografia, as artes plásticas perderam a função de reconstruir o mundo como o vemos, entrando, de certa forma, numa crise que geraria inúmeras vanguardas e conceitos diversos, na tentativa de reafirmar sua necessidade e dar continuidade a sua evolução.  

Bazin ainda chama a atenção para o caráter objetivo da fotografia. Ao contrário da pintura realista-naturalista, não é a mão do artista que dá forma ao que é visto, mas é a lente objetiva da máquina que captura o momento, sem a possibilidade da intervenção humana, a não ser na escolha do que será fotografado, aumentando completamente a credibilidade na imagem, tornando-a quase a própria realidade representada. 

os textos analisados estão no livro: A experiência do cinema: antologia / organizador: Ismail Xavier / Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983

Um comentário:

Miriane Figueira disse...

Pelas banderinhas brancas!

Sobre a arte e fotografia e todos argumentos para o "isso foi" de Barthes.

"Vê-se bem que isso corresponde finalmente a um grande fantasma de qualquer representação indiciaria: ao mesmo tempo afirmar a existência do referente como uma prova irrefutável do que ocorreu, e ao mesmo tempo, portanto, eternizá-lo, fixa-lo além de sua própria ausência; mas também, por esse mesmo caminho, designar esse referente mumificado como inelutavelmente perdido, doravante inacessível como tal para o presente: é, no mesmo movimento, estatuifica-lo para sempre como signo e remete-lo como referente a uma ausência inexorável, ao esquecimento, à carência, à morte "

Dubbois, em O Ato Fotográfico.